segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Por que firo a mim mesma?


Por que alguns jovens recorrem à automutilação?

“Fiz cortes tão fundos em meus pulsos que tive de levar pontos. Falei para o médico que eu tinha me cortado numa lâmpada quebrada, o que era verdade — só não falei que foi de propósito.” — Sasha, 23.
“Meus pais já viram alguns cortes que fiz em mim mesma, mas só os que não eram tão fundos e pareciam arranhões . . . . Às vezes eles vêem um corte que não viram antes, daí invento uma desculpa . . . . Não quero que eles descubram.” — Ariel, 13.
“Eu fazia isso desde os 11 anos. Sabia que Deus quer que respeitemos nosso corpo, mas nem isso me fez parar.” — Jennifer, 20.


PODE ser que você conheça alguém como Sasha, Ariel ou Jennifer.* Talvez seja sua colega de escola. Talvez sua irmã ou seu irmão. Talvez seja você mesma. Somente nos Estados Unidos, estima-se que milhões de pessoas, na maioria jovens, firam propositalmente a si mesmas de vários modos, tais como cortes, queimaduras, contusões ou arranhões.#
Ferir a si mesmo propositalmente? Tempos atrás, muitos relacionariam esse comportamento a alguma seita ou moda bizarra. Em anos recentes, porém, o conhecimento sobre essa prática — que inclui a automutilação — aumentou muito, assim como, pelo que tudo indica, o número de pessoas que admitem ter esse problema. “Todos os médicos dizem que ele está aumentando”, declara Michael Hollander, diretor de um centro de tratamento nos Estados Unidos.

Perfil variado
É difícil enquadrar todas as pessoas que praticam a automutilação numa única categoria. Algumas vêm de famílias problemáticas; outras, de lares estáveis e felizes. Muitas estão indo mal na escola, outras são ótimas alunas. Em geral, essas pessoas apresentam pouco ou nenhum indício de que têm um problema, porque quem enfrenta dificuldades nem sempre demonstra isso.

A gravidade da automutilação também difere de pessoa para pessoa. Por exemplo, certo estudo constatou que algumas cortam-se apenas uma vez por ano ao passo que outras chegam a se cortar em média duas vezes por dia. É digno de nota que mais homens têm esse problema do que se pensava. Mesmo assim, ele ocorre principalmente entre as adolescentes
Mesmo com um perfil tão variado, as pessoas que ferem a si mesmas parecem ter algumas características em comum. Uma enciclopédia sobre jovens declara: “Os adolescentes que ferem a si mesmos em geral se sentem impotentes, têm dificuldade de expressar seus sentimentos, sentem-se isolados ou excluídos, têm medo e baixa auto-estima.”
É claro que alguns talvez digam que essa descrição se enquadra em quase todos os jovens que enfrentam os medos e as inseguranças do amadurecimento. Mas para a pessoa que se corta, o conflito é especialmente intenso. O fato de não conseguir traduzir seus sentimentos angustiantes em palavras e expressá-los a um confidente pode fazer as pressões na escola, as cobranças no trabalho ou os problemas em casa parecer esmagadores. A pessoa não vê solução e sente que não tem com quem desabafar. A tensão fica insuportável. Daí, ela descobre uma coisa: quando fere fisicamente a si mesma, parece encontrar algum alívio para a angústia, sente que pode ir em frente — pelo menos por mais um tempo.
Por que a pessoa que se corta recorre a essa prática a fim de aliviar a angústia? Para ilustrar: Considere o que acontece quando você vai tomar uma injeção. Pouco antes da picada, já fez algo para se distrair a fim de não senti-la, como, por exemplo, beliscar outra parte do corpo? Quem se automutila faz algo similar, só que muito mais grave. Para essa pessoa, cortar-se é uma forma de alívio, de desviar a atenção do que é equivalente à picada: sua angústia emocional. E a angústia é tão grande que a dor física é preferível. Talvez seja por isso que uma jovem que tem esse problema descreveu a prática como um ‘remédio para os seus medos’.


Fonte: Torre de vigia

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