sábado, 15 de novembro de 2008

Educar para a diversidade

Discursos politicamente corretos: a escola tem se especializado nessa questão.
Vamos tratar da expressão "educação para a cidadania" para mostrar o quanto ela é usada apenas como ferramenta de marketing, e não como experiência educativa de fato.

Afinal, o que cada escola que usa tal conceito em seu projeto político-pedagógico pratica nesse sentido?

Nessa altura do ano, em que a maioria dos pais toma decisões quanto à matrícula dos filhos, um número significativo deles está à beira do desespero. Seus filhos, pelos mais diversos motivos, são considerados portadores de necessidades especiais, e a maioria das escolas não quer recebê-los.

As justificativas são variadas: ora a escola não está preparada para receber tais alunos, ora suas dependências não são apropriadas, ora a idade do aluno é muito discrepante dos colegas da classe que teria de freqüentar etc.

O fato é: a matrícula deles não está garantida nas escolas particulares.
É interessante lembrar que a educação escolar não tem como objetivo apenas o desenvolvimento de habilidades pelo uso do conhecimento, o contato com a cultura e a arte. É principalmente uma prática que leva à integração social. É na escola que o aluno aprende a conviver em sociedade: ocupa, pela primeira vez, um papel social fora do núcleo familiar, se integra a um grupo de pessoas diferentes que compartilham o mesmo objetivo, aprende a ser solidário, colaborativo e respeitoso nas relações. E tem mais: toda criança pode aprender.

Pelo jeito, vida em sociedade é um direito de quase todos, e não de todos. Estão aptos a freqüentar uma escola particular apenas os alunos que apresentam características próximas às das crianças que já freqüentam ou tradicionalmente freqüentaram a escola regular. Isso é "educar para a cidadania"?

A prática escolar tem sido a de adaptar os alunos ao seu funcionamento e ensino. Tal equação precisa ser invertida para que a escola cumpra seu papel social. Rendimento escolar abaixo do potencial do aluno, problemas na convivência com as normas da escola e com os pares, dificuldade para superar a angústia que aprender suscita não devem ser tratados como problemas pessoais de determinados alunos. São problemas da escola, sobre os quais ela precisa refletir para reconsiderar sua prática usual.

Quais as nossas responsabilidades diante dessa questão?
Temos ou não compromisso com as gerações mais novas e com o futuro, com a convivência com a diversidade e a busca de relações sociais mais democráticas? Como muitas escolas particulares, temos esse discurso, mas nossa prática se assemelha à das escolas que não aceitam certas crianças.

Por um futuro melhor para nossos filhos, precisamos todos nos envolver diretamente com essa questão. A não ser que estejamos satisfeitos com o fato de que nossos filhos vivem em uma sociedade que segrega e exclui. Estamos?

fonte:folha de sao paulo

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