Para quem vive no interior desse imenso Brasil, a frase "o que Deus quiser" soa sempre como uma dor profunda que sai do coração do sertanejo. Quantas lutas perdidas, quantos sofrimentos, quantas decepções com as promessas de políticos.A frase muitas vezes tem a conotação de um íntimo desespero, mas, ao mesmo tempo, de confiança naquele Deus em que o sertanejo sempre repõe sua última esperança, guardada no fundo, no cantinho mais escondido. Resignação, mas não desistência.E desta vez, a mesma história se repete.
Na zona da seca - assim pode-se chamá-la, visto que a seca já é cíclica, existem pessoas que ainda confiam em Deus, mas perdeu toda a confiança nos homens, especialmente nos políticos do lugar, e não é para menos. Quantos sofrimentos, quantas caminhadas para ter uma lata de água barrenta que dá cólicas e disenterias, que não mata a sede, quando na mesma caatinga estorricada pelo sol, a mansão do político tem piscina até de água mineral, plantas vicejantes regadas pela antiga Sudene, rezes bem alimentadas (como a mesma TV mostrou em outras secas).
Fora dali, crianças sedentas, famintas e com verminose, mulheres ressequidas, sertanejos enrugados pelo inclemência do sol e desesperados, em busca de uma gota de água para aliviar a sede sua e dos filhos, dos animais que deveriam providenciar sua subsistência.
Os pequenos açudes já estavam secos e barrentos. O sertanejo está vivendo outro drama da seca nordestina que dura séculos. Tenta sobreviver de qualquer maneira, esperando o socorro dos carros-pipas: quando chegam (se é que chegam) é como festa de Natal .
Temos que reconhecer que algumas prefeituras estão tentando algo como carros-pipas, algumas adutoras, mas tudo insuficiente para atender a demanda dos flagelados, alguns açudes, ainda inacabados, cujo resto de água podre nem serve para matar a sede dos animais.
Em fim, na longa história das secas, algumas coisas foram feitas, mas poucas pelo muito dinheiro que se perdeu nos caudais dos administradores públicos e da burocracia e o povo continua sofrendo. A seca do ano 70 durou 5 anos, depois veio a de 81 que durou mais cinco anos, a de 92/93 que foi a maior pelo sofrimento e pelo descaso das autoridades. ... apesar do pouco que tinham, os flagelados tudo dividiam entre si, ajudando em particular as mulheres e as crianças, enquanto muitas vezes os homens fugiam do sertão para a cidade, em busca de nova vida, mas, freqüentemente, esqueciam os que tinham deixado para trás.
Obs: Este artigo me parece ser bem antigo, e eu me lembro perfeitamente de pessoas que relatavam exatamente este tipo de conversa. Mas gostaria de saber se esta seca ainda existe no nordeste.
fonte: mundo e missão










1 comentários:
Amanhã tem SANDRA CANTII em DOMIGO É DIA DE BLOG, o post semanal do Dr. Negociação.
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