No disputadíssimo mundo do colarinho branco, há que fazer chapinha, enrolar a língua e engolir "frogs" para almejar o "benchmark" que dá direito a salários de sonho, fora benefícios de encher os olhos.
No Brasil, os tops do topo são 121 profissionais "centenários", gente de alto calibre, que recebe salários acima de R$ 135 mil por mês. Na faixa mais modesta, dos R$ 56 mil, são 2.170 executivos (diretores e vice-presidentes), segundo pesquisa da Mercer, principal consultoria no mercado empresarial para a América Latina, com 261 empresas responsáveis por 28% do PIB brasileiro.
"Um diretor da empresa americana onde trabalhei foi apresentar um projeto para um executivo, vice-presidente de telecomunicações. No final da apresentação, o cliente perguntou, descontraidamente, onde o diretor havia conseguido aquele relógio de 'segunda linha'. Por acaso, ele era um colecionador e percebeu que o Rolex era falso. Para nós, perdeu totalmente a credibilidade", conta Elaine Vilela, 35, diretora de marketing e comunicação de uma multinacional israelense.
A consultora de treinamento e comunicação, da Casa da Comunicação, Vanessa Gobbi se lembra de outra história, de uma colega chamada para uma entrevista. "Ela entrou, o 'headhunter' a mediu de cima a baixo e disse que estava dispensada. Não houve conversa", lembra. Mais tarde, descobriu-se o motivo da dispensa: a candidata não usava salto fino. Não importa a situação de seu menisco, essa é uma regra indiscutível no mundo corporativo.
Jogo do capital
Com um MBA em finança corporativa e estratégia na Universidade Wharton, na Pensilvânia, e depois de ter trabalhado em bancos de investimentos, em Paris, Suíça e Emirados Árabes, onde fazia negócios na base mínima dos US$ 200 milhões, o francês da Martinica Jea-Marc Laouchez, 43, desistiu.
"Eu fazia parte desse circo quando ,por trás da fantasia (o terno, o carro, os jantares), havia o objetivo de empreender. Quando passei a me questionar sobre aquelas regras e percebi que a minha missão de vida não estava alinhada com os interesses da empresa, resolvi seguir meu caminho", conta. "Em vez de cuidar da vida do acionista, que nunca aparece, resolvi cuidar de mim e da minha família", diz.
Mas não esqueceu os ensinamentos básicos de Adam Smith: "Aprendi no mundo corporativo, não adianta fazer caridade, é preciso ensiná-los o jogo do capital".
Revista da Folha
por Marianne Piemonte
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