sexta-feira, 24 de julho de 2009

Gripe suína e o surto de desinformação

O jornal Folha de S. Paulo estampou em manchete no último domingo (19) que a chamada gripe A, apelidada de gripe suína, “deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses” e no texto da matéria vai ainda mais longe: diz que poderá infectar até “67 milhões de brasileiros ao longo das próximas cinco a oito semanas”. O jornal usou projeções estatísticas feitas para outras doenças e em outras circunstâncias para se chegar a estes números absurdos. Segundo o médico Eduardo Carmo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, que serviu de fonte para a reportagem, o jornalista foi alertado sobre esse erro e, mesmo assim, o jornal publicou a falsa informação. Esta conduta criminosa deveria render uma multa pesada para o jornal e a demissão sumária do jornalista e editores que incentivam este tipo de manipulação.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2007 (não há dados consolidados sobre 2008), morreram no Brasil mais de 42 mil pessoas vítimas de doenças respiratórias como pneumonia e gripe comum. Até ontem, em todo o mundo, o número de pessoas que morreram em decorrência da gripe A não chegava a mil. Segundo a União Européia, 843 mortes em todo o mundo e cerca de 167 mil casos já registrados em laboratórios. Ou seja, não há motivo nenhum para se acreditar que a nova gripe se transforme numa pandemia letal como foi no passado a gripe espanhola.

Por que então a mídia insiste no tom alarmista? Fazer uso político de um problema de saúde pública pode ser uma das explicações.

Afinal, já vimos este filme antes, no início de 2008, quando a mídia anti-Lula percebeu que poderia usar o aumento dos casos de febre amarela como argumento para torpedear o governo. Naquela ocasião, o pânico disseminado pela irresponsabilidade da imprensa levou milhares de pessoas a se vacinarem sem necessidade. Algumas pessoas morreram vítimas dos efeitos colaterais da vacina.

Agora, percebe-se por parte de alguns jornais e jornalistas a mesma disposição de fazer uso político de um problema de saúde pública, levando desinformação à população que acaba lotando os hospitais e postos de saúde, prejudicando ainda mais o atendimento médico que já é precário na rede pública.

Epidemia e pandemia são assuntos da esfera da OMS (Organização Mundial de Saúde) e das autoridades sanitárias de cada país. Os veículos de comunicação devem servir como instrumento de esclarecimento e informação à população. A preocupação da imprensa deveria ser a de ouvir especialistas, fazer comparações estatísticas corretas com outras doenças, repetir quais são os cuidados que se deve ter, cobrar do governo em todas as esferas –federal, estaduais e municipais-- quando há problemas no atendimento das clínicas e hospitais.

No Brasil, o Ministério da Saúde possui uma política consolidada de prevenção a possíveis epidemias de diferentes tipos influenzas pelo Brasil. O Ministério utiliza a comunicação como principal aliado para esclarecer a população e evitar que o vírus da gripe se torne uma epidemia no Brasil. O trabalho das autoridades sanitárias está sendo feito de forma responsável e ágil. Não pode ser prejudicado pela irresponsabilidade e pelas picuinhas políticas de setores da mídia que se alimentam de escândalos e alarmismos.


Fonte:Vermelho


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